Passam-se as horas, dias, meses e anos e o tempo esvaindo-se de forma real, implacável... Apesar disso a alegria é intensa. O espelho não me mente. Sou feliz porque amei, sofri, vivi tendo a paz como minha aliada.
Continuo aqui e não sei quanto tempo me resta. Amanheço e anoiteço, vivo em festa pausadamente vendo tudo acontecer.
O que é mesmo envelhecer?
Acordar cada manhã e ver diferente o rosto e as cãs aparecerem. Usando e trocando de óculos que o médico vai receitando. As ginásticas antes prazerosas agora se tornam custosas.
Veja bem você que me lê, o velho tem rica experiência e sabedoria; interessante seria que a ciência pudesse aproveitá-la um dia!
Envelhecemos fisicamente, mas o nosso espírito e sentimento sempre jovens são, pois a velhice é apenas uma continuidade da evolução.
É preciso saber, tornar como criança vivendo em constante esperança.
Viver e envelhecer com dignidade é ter uma existência madura. Se a terra é fértil, é certa a boa colheita com fartura. As sementes semeadas com amor mesmo entre espinhos produzirão frutos e serão colhidos com entusiasmo e carinho.
Envelhecer é viver, é gostar do que fez e realizou, e depois contar que doeu sim, mas aprendeu, e o que foi ruim esqueceu.
Alegria não tem idade e na alma a ruga não aparece porque não envelhece. A alma não morre, só adormece e é muito bom saber que na eternidade todos se conhecem.
Envelhecer não sangra e não dói, mas sofre de carência quando chora o silêncio das ausências.
Envelhecer é esconder-se dentro de si mesmo. Mudar os hábitos e costumes. Na penumbra de sonho, tomar chá, cultivar a leitura de livros, tirar sonecas e espiar o cair da chuva.
Envelhecer é ficar sossegado, desistir de estar em evidência, gostar de contar histórias esquecido da vida, aquecido pelas memórias.
É preciso coragem e preparo para envelhecer, porque envelhecer é passar a ter apenas a própria companhia e muitas vezes surpreender-se com o desconhecido. Contemplar os cômodos vazios da casa e da alma, ouvir a ressonância de palavras, gritos, murmúrio, choro e risadas, é também escutar o eco dos próprios pensamentos.
Envelhecer é reviver o ontem, olhar para trás e mergulhar na saudade sabendo que a vida está por um fio. É preciso força porque cada dia é uma conquista e cada noite um desafio.
Envelhecer é deixar a lágrima rolar, rir sozinho, fazer pausas, exercitar a paciência. É reunir-se, juntar, encaixar muitas peças do quebra-cabeça, concluir já ter andado a maior parte do caminho e agora quase sempre á andar sozinho.
Envelhecer envolve tristeza e alegria, esperança e resignação, valentia e medo em cada momento. É presunção, humildade e arrependimento. Envelhecer é chegar mais perto de Deus.
Envelhecer é ter a dignidade de contemplar a beleza da natureza que nos faz esquecer muitas tristezas. Ter sempre um sorriso nos lábios, alegria no rosto e no coração, também guardar boas lembranças de quem recebeu carinho, quando não estava sozinho.
Em nossa caminhada passamos por etapas que podemos comparar às estações primavera a primeira infância o verão a juventude, quando se percebe o outono chegar, mudanças inevitáveis começam acontecer e quase sem perceber o espírito forte como é, dará sustentação ao corpo para o inverno vencer.
Envelhecer é guardar na memória ter feito história, metamorfoseando já que tudo vai mudando.
É interessante, à medida que se envelhece o corpo contrasta com a alma, que por si amadurece de modo que a preocupação com o físico é secundário, adquire aprendizado quase sempre avaliando o justo do injusto, mantendo a calma e no dia-a-dia encontra a explicação da vida. Agora o sonho e encantamento é ouvir a canção da alma.
Na verdade não importa a sua idade e sim o que você é. Se você plantou muito amor terás louvor. Ao chegar o fim verá refletida a sua própria vida. São lembranças e lembranças!
Consola-me acreditar que existe outra vida fora do planeta. Estamos de passagem por aqui. É uma vitória alcançada. Todos estaremos, um dia, na verdadeira morada.
Maria Loussa
